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Modos erráticos

Editores

Com a Ensaia n.3, chegamos à nossa quarta publicação. Após alguns adiamentos e a repetitiva sensação de que talvez não daríamos conta, é gratificante ter agora em mãos (ou ao alcance dos olhos) mais um número. Descobrimos a cada processo que editar é também, talvez, uma forma de escrita e leitura particularmente atenta; que é, ainda, uma forma ao mesmo tempo sensual e ardilosa de colocar-se em contato com o outro – outras dicções, outras gramáticas, outros países, outras sensibilidades. Editar, ao menos desde a nossa perspectiva, faz-se um gesto igualmente próximo da curadoria, pois é do arranjo sistemático dos materiais que algo pode enfim ganhar corpo e interesse receptivo. Para além de selecionar e produzir trabalhos, trata-se do exercício de uma certa visão de conjunto, de modo a provocar aproximações ou distanciamentos com o único intuito de potencializar possíveis zonas de significação. E por lidarmos com trabalhos tão distintos – em seus (anti-)métodos composicionais, em suas formas de lidar com os diversos campos do conhecimento e linguagens artísticas, em suas propostas, em seus sugestivos inacabamentos –,  corremos sempre o risco de resvalar antes na vagueza, ou numa aleatoriedade despropositada, que na contundência do informe. É um risco que corremos, mas que cede logo seu espaço a alguma espécie de alegria (como aquela que temos quando sentimos o cheiro da comida no forno antes mesmo de saber se seu gosto é bom). Com este número buscamos (quem sabe?) partilhar algo dessa sensação, e criar junto com cada leitor(a), diante do que temos aqui, outros territórios de legibilidade, outros modos de estar junto em nossa radical diferença.

 

A despeito da heterogeneidade dos trabalhos publicados, há algo que se faz presente em todos eles, e que também parece orientar de maneira geral os critérios da revista. Trata-se de uma tônica por assim dizer experimental ao criar, narrar, corresponder. Ou, mais precisamente, de um modo errático – e potencialmente instigante – de dar vida ao pensamento. Esperamos que os trabalhos deste número ofereçam ao leitor ou leitora interessado(a) experiências que se aproximem da nossa suspeita.

Na seção ENSAIO, publicamos Pintura branca, de Maria Palmeiro; Ela não aguentava mais, de Clarisse Zarvos; e Objetos performáticos: a vida do objeto da cena contemporânea, de Alice Cruz. 

 

Integram a seção LABORATÓRIO o trabalho Gota, de Elilson; Notícias do front tapajônico: um relato de viagem, de Fábio Zuker; e Digressões de um curador cego a partir de um arquivista distraído, de Felipe Braga.

 

As peças Albert Cossery ou Uma palavra para o dia chegar ao fim, de Ricardo Cabaça; Pepétuo, de Daniele Cristyne; Hemorragia, de Le Tícia Conde; e o roteiro cinematográfico Artista não come, de Miguel Seabra, compõem dessa vez a seção PEÇA.

 

Na seção COMPANHIA, publicamos O pornô político de Bruce LaBruce, entrevista inédita de Rodrigo Gerace com o cineasta.

 

Luisa Marinho escreve O outro que me escuto para LÍNGUA, seção que a partir de agora deixa de dedicar-se estritamente a traduções para abrigar trabalhos que também se relacionem de algum modo com questões de tradução e linguagem. 

 

Na seção RUBRICA, está presente Anotações sobre um núcleo de pesquisa: entre o nada e o volátil, de Liana Ferraz.

 

Para a seção DIÁLOGO, colocamos lado a lado Cartas para Sebastian, meu amigo onda, de Flavia Naves, e Vidas vestem ruídos, de Sebastian Wiedemann.

 

Por fim, apresentamos duas novas seções criadas particularmente para este número: TEXTO PARA SER LIDO EM VOZ ALTA EM UMA BIBLIOTECA, onde publicamos Toda ordem é uma situação oscilante à beira do precipício, de Luana Navarro; e IMAGEM, onde publicamos você me conhece tão mal, de Carolina Veiga.

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