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Nota 26

 

Reflexão sobre a nota anterior. Finalizando. É na exposição teórica de Creuzer e de Gröes sobre o símbolo que Benjamin encontra uma característica fundamental da alegoria que irá relacionar ao seu conceito de história. É a inserção da categoria de tempo na semiologia realizada por esses autores românticos que contribui para o esclarecimento da visão alegórica.

 

Na acepção do primeiro, o símbolo é “o momentâneo, o total, o insondável quanto à origem, e o necessário” que o próprio Creuzer destaca como uma capacidade de concisão que aparece de repente como um relâmpago “que subitamente iluminasse a noite escura”. Este instantâneo surge em situações importantes da vida, “em que cada instante contém um futuro rico em consequências” mantendo a alma em estado de tensão. Para Gröes não existe uma distinção definitiva entre símbolo e alegoria. Esta última é uma cópia das ideias autárquicas do primeiro, porém, “em constante progressão, acompanhando o fluxo do tempo”. Benjamin soluciona a questão inferindo que o instante místico é a medida temporal da experiência simbólica, mas a alegoria está constituída por uma dialética correspondente a essa – o caráter momentâneo e permanente.

 

A elaboração do conceito de história de Benjamin procura articular a noção de experiência, com novas categorias de temporalidade que valorizam o presente em relação a um passado imobilizante. Longe de querer levar a cabo a noção de experiência (Erfahrung) como alicerce para o conceito de história benjaminiano, cabe para minha reflexão a notação de que se trata de uma nova estrutura de experiência que constitui o “par conceitual” (MURICY) das suas análises da modernidade. É a barbárie positiva, incluindo a consciência de choque, já discutida anteriormente, que nasce junto com a perda da aura. O mundo que emerge é declinado dessa experiência, surgindo como fantasmagoria. O choque “é o potencial de estranhamento de que se carregam os objetos quando perdem a autoridade que deriva do seu valor de uso e que garante a sua inteligibilidade tradicional” (AGAMBEN, 2007: p. 75). O olhar arcaico, mítico, que acredita nas correspondências originárias e na aura das coisas é um olhar que não revela senão que padece de uma ilusão, carecendo de lucidez.

 

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